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Após preconceito, ele abriu gelateria com 80% de surdos e fatura R$ 900 mil

01/02/2022
O empresário Breno Oliveira, 28, já enfrentou discriminação em entrevistas de emprego por ser surdo. Em 2016, resolveu abrir seu próprio negócio, uma gelateria artesanal em Aracaju (SE), que tem 80% dos seus funcionários surdos. A sorveteria se chama Il Sordo (O Surdo, em italiano) e faturou R$ 900 mil em 2021. "Sempre fui minimizado nas entrevistas, parecia que não era capaz, muitas pessoas não aceitavam minha surdez", relembra o empresário, que antes trabalhava como instrutor de Libras (Língua Brasileira de Sinais).

Com o apoio da família e orientado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Oliveira pesquisou iniciativas de empreendedorismo e se matriculou em um curso de produção de gelato italiano (sorvete cremoso típico) em uma escola em São Paulo. Ele tomou gosto pela área e, após estudos de custo e investimento, abriu o negócio em Aracaju e apostou no diferencial de ser uma proposta voltada à acessibilidade e à inclusão.

"Muitas pessoas que vêm pela primeira vez sentem um impacto, um pouco de medo, de vergonha, mas procuramos acolher o cliente. É o mesmo impacto que sentimos lá fora, mas aqui acolhemos essa diversidade. Os clientes sentem o acolhimento e compram a ideia, perdendo o medo e aprendendo a se comunicar melhor com quem é surdo", afirma Oliveira.

A Il Sordo já foi indicada para o Prêmio Veja-se, da revista Veja, na categoria Diversidade, e recebeu o certificado de excelência da TripAdvisor —onde está avaliada com nota máxima. Inclusão Aberta em 2016, a gelateria tem hoje 11 trabalhadores com carteira assinada, dos quais 9 (82%) são surdos. Os dois ouvintes ficam na produção, enquanto os não ouvintes também ajudam a produzir e operam o atendimento.

Além da matriz, a empresa tem dois outros pontos de venda na capital sergipana, e mais uma loja franqueada em Salvador, na praia da Barra. Tendo o gelato italiano como carro-chefe (preço inicial a R$ 11), oferece também tortas, doces, cupcakes, brownies, picolés e cafés. Em 2019, antes da pandemia de covid-19, a Il Sordo chegou a faturar R$ 1,1 milhão. Após um 2020 de queda, atenuado basicamente por entregas em domicílio, o faturamento voltou a subir no segundo semestre do ano passado e fechou 2021 em R$ 900 mil.

Quando a loja se consolidou no mercado, Oliveira conta que passou a ser procurado com muita frequência por pessoas surdas em busca do primeiro emprego. As mensagens não paravam de chegar.

É o caso do funcionário Lenaldo Silva, 26. Após estágio de um ano como menor aprendiz, ele passou um tempo desempregado e só conseguiu seu primeiro trabalho com carteira assinada na Il Sordo. "Desde meu primeiro dia, me senti muito bem. E melhorei muito na minha vida, no meu comportamento. Ganhei mais confiança, e minha situação financeira melhorou também. Sou pai de um menino e tenho minhas responsabilidades", diz ele, que está na empresa há quatro anos.

Os cardápios e o balcão de pagamento na sorveteria são personalizados: há mais imagens e eles são mais interativos. Há também uma TV na parede, onde é exibido vídeo em que se ensinam sinais básicos para pedir uma amostra de sorvete ou agradecer o serviço, por exemplo. "O surdo é muito visual", declara Oliveira.

Descrição da imagem de capa: Breno Oliveira, 28, faz o sinal de sua marca, "Il Sordo".

Roberto Oliveira

Colaboração para o UOL, em Aracaju

26/01/2022 04h00

Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2022/01/26/inclusao-gelateria-funcionarios-surdos.htm?cmpid=copiaecola&fbclid=IwAR2iKH84SrtM5HVrqwPH8NaJyMfPv6gPlJ04GaW-G5vJoXlmiFmtId77L4c